quinta-feira, 31 de março de 2011

A hora do verde-amarelo

A recente polêmica causada pelas declarações patéticas do também patético deputado Bolsonaro me trouxe uma velha conclusão: nós, brasileiros, somos alienados e tolerantes demais. Por coincidência, eu estava bisbilhotando meus arquivos e me deparei com um artigo que escrevi para o Jornal do Commercio em 2006, logo após a eliminação da seleção brasileira na copa. O texto é sobre o patriotismo relâmpago em épocas de copa e o estado de letargia citado acima. Acho que vale a leitura.


A hora do verde-amarelo

Publicado em 25.07.2006

CARLOS EDUARDO DE

QUEIROZ LIMA FILHO

A falta de mobilização dos brasileiros diante da indiscutível grave situação social do País está cada vez mais contagiante, como uma doença que se alastra e causa moleza e desinteresse. Diariamente chegam ao nosso conhecimento ações de crime organizado, paralisações nas máquinas públicas, casos de exploração infantil, assassinatos em sinais de trânsito, desvios de verba no governo, mortes por deslizamento de terra e outros inúmeros acontecimentos que escancaram a imensa fragilidade da sociedade em que vivemos. No entanto, ninguém fala nada, ninguém levanta a voz. No Brasil, pessoas que deveriam estar isoladas em presídios, pagando por crimes contra a sociedade, têm o poder de parar a maior metrópole da América Latina, uma cidade conhecida por não parar. Em qualquer país onde a população tenha senso de responsabilidade sob o que acontece dentro de suas fronteiras, a resposta viria em forma de revolta generalizada. No entanto, a única coisa capaz de nos fazer ir às ruas, de despertar nossas emoções e mexer com o orgulho de ser brasileiro é o futebol. É preciso que haja uma Copa do Mundo para o País vestir suas cores.

Há tempos nenhum ladrão (seja lá de que nível da pirâmide hierárquica dos ladrões brasileiros) causava tanta indignação quanto causou o técnico Carlos Alberto Parreira por não escalar o time “ideal” durante a Copa. Roberto Carlos então, não houve mensalão que manchasse mais o orgulho nacional quanto o erro de marcação do camisa 6 da seleção no gol que deu a vitória a França. Durante todo o mês de junho e começo de julho, os jogadores brasileiros foram o assunto central do nosso dia-a-dia. Os quilos a mais de Ronaldo foi tema de debates fervorosos com direito a comentaristas ilustres e, por fim, fomos telespectadores de um verdadeiro Big Brother, com direito a noitadas, bolhas, namoradas, familiares dos participantes e até Pedro Bial.

Diante desse quadro, me pergunto: como seria se a imprensa, a publicidade e, principalmente, a população, concentrasse tanta paixão e interesse na situação social do País, quanto concentra na Seleção Brasileira? Será que nos tornaríamos todos especialistas em cidadania? Será que teríamos opiniões convictas de como vencer nossos maiores adversários, como a precariedade do ensino primário e médio? Teríamos táticas ofensivas para bater a fome e o desemprego? Estratégia segura para nos defender de ataques criminosos? Quem seriam nossos heróis? Será que, diante desse despertar de consciência, passaríamos a ter outra identidade, que não a do país do samba e do futebol?

O fato é que, com nossa derrota na Copa do Mundo, as bandeiras estão sendo recolhidas e o verde-amarelo dos muros e ruas está novamente dando lugar à paisagem comum. Os rostos pintados estão sendo substituídos por fisionomias pálidas. O estado de anestesia em que vivemos não nos permite sentir que, justamente a partir de agora, precisamos nos mobilizar para um outro evento, que também acontece de quatro em quatro anos. Diferentemente da seleção brasileira, em outubro, teremos a oportunidade de escolher, nós mesmos, os representantes do nosso País. São dessas pessoas que devemos cobrar empenho, garra e determinação. São eles que devem honrar nossa camisa e dar o sangue por ela. Eles, sim, têm a obrigação de levar o Brasil à superação e trabalhar visando o sucesso coletivo. Mas para isso acontecer, não basta ficar na torcida. Precisamos nos levantar e agir.

Carlos Eduardo de Queiroz Lima Filho é publicitário. E-mail: ce_queiroz@yahoo.com.br

quinta-feira, 1 de julho de 2010

A Banda

Quando Music From Big Pink foi lançado em 1968, o mundo se perguntou que banda era aquela que fazia um som indefinível, misturando rock, blues, country, soul e gospel com outros ritmos tradicionais americanos, em músicas habitadas por personagens que podiam ser reais ou apenas figurantes de um passado esquecido em algum lugar no sul dos EUA.
Era uma época de rebeliões e lutas pelos direitos civis em todo o planeta, e, enquanto a maioria bandas de rock adotava nomes mirabolantes e fazia músicas com arranjos intermináveis e sons psicodélicos, o mundo conheceu uma banda simplesmente chamada “The Band”.
Apesar da fama só chegar em 1968, a história do quinteto formado por quatro canadenses e um filho de fazendeiro do Arkansas começou 10 anos antes, quando eles formavam a banda de apoio do cantor de rockabilly Ronnie Hawkins’ Hawks, fazendo o circuito de bares e clubes de Toronto e do sul dos EUA.
Em 1964, já como banda independente (na época, usaram vários nomes, como The Crackers), tocaram em Nova York e atraíram a atenção de Bob Dylan, que os contratou como banda de apoio, começando uma parceria que renderia frutos maravilhosos ao longo dos anos.
Em 1966, após um acidente de moto que hoje é lendário, Bob Dylan foi morar recluso em Woodstock, região no interior do estado de NY, e “a banda” o acompanhou no exílio. Enquanto gravavam com Dylan o material que posteriormente saiu no álbum The Basement Tapes, eles começaram a trabalhar no seu próprio disco.
Gravado no porão da casa em que boa parte da banda morava em Woodstock, chamada de Big Pink (daí o titulo do disco), o álbum apresentou pela primeira vez as composições intrigantes e a guitarra crua e pontuda de Robbie Robertson, o vibrante baixista e vocalista Rick Danko, o genial multi-instrumentista Garth Hudson, o pianista e dono de uma voz sublime Richard Manuel e o cantor-baterista Levon Helm (único americano da banda), cuja musicalidade transmite toda sua herança musical do sul dos EUA. Juntos, os três cantores da banda fizeram trabalhos de harmonia vocal incríveis.
A falta de publicidade, de shows e entrevistas de divulgação não impediu que Music From Big Pink virasse um sucesso imediato, influenciando rapidamente gente como Eric Clapton e George Harrison. Na verdade, a reclusão dos membros da banda só aumentou as especulações em torno de suas figuras. Quando começaram as aparições públicas, as pessoas notaram que, assim com a música, os músicos também pareciam vir das montanhas, com suas roupas rústicas e barbas.
O disco que viria depois, batizado apenas como The Band, em minha opinião, é ainda melhor. O clima de enigma permanece, mas o forte teor histórico e cultural presente nas faixas dão uma força incrível ao álbum. Todas as músicas foram compostas por Robbie Robertson, sendo duas em parceria com Richard Manuel e uma com Levon Helm, o que não diminui em nada o senso de coletividade na audição.
Logo na primeira faixa, Across the Great Divide, Richard Emanuel dá um show de interpretação. Rag Mama Rag, a segunda música, mostra a versatilidade da banda, com Richard na bateria, Levon Helm cantando e tocando mandolin, Rick Danko na rabeca e o produtor John Simom na tuba (a musica não tem baixo). Porém, o destaque, pra mim, é o piano de Garth Hudson.
The Night They Drove Old Dixie Down é a terceira faixa do disco e um dos hinos da banda - uma aula de história escrita por Robbie Robertson e interpretada por Levon Helm numa performance de arrepiar. A letra resgata a vida no sul dos EUA contada do ponto de vista de Virgil Caine, um fazendeiro do Tennessee que serviu ao exército confederado e luta para sobreviver com sua esposa – a música quebra o estereótipo do sulista redneck e escravocrata, um tema caro até hoje para muita gente nos EUA. Na verdade, o álbum inteiro é inspirado no sul dos Estados Unidos. A Guerra Civil Americana, assim como as feridas deixadas por ela, é um dos temas abordados. Dessa forma, o crítico musical e cientista social Greil Marcus, define The Band como “um passaporte de volta para pessoas que se tornaram estranhas em seu próprio país”.
Up On Cripple Creek, faixa 5, foi o compacto de maior sucesso da banda, onde o clavinete tocado com pedal wah-wah por Garth Hudson, que dá uma pitada de funk à musica é o grande destaque. A música seguinte é Wispering Pines, um belo exemplo da capacidade vocal de Richard Manuel. Na penúltima música, The Unfaithfull Servant, é a vez de Rick Danko brilhar na interpretação. Finalmente, o disco fecha com King Havest (Has Surely Come), outro momento de coletividade brilhante. Apesar de ter citado só algumas preferidas, o álbum inteiro esbanja criatividade. Assim como num disco de Ray Charles (grande ídolo de Richard Manuel), a música pode soar religiosa num momento para, em seguida, parecer profana.
“A Banda” seguiu lançando discos com sua formação clássica até 1976, quando Robbie Robertson largou o grupo definitivamente depois do projeto The Last Waltz, um sensacional filme-concerto dirigido por Martin Scorsese e produzido pelo próprio Robbie. Mas sem dúvida, The Band é seu disco mais consistente.
Na década de 1980, The Band voltou sem o seu guitarrista original e principal compositor, mas encerraram atividades após Richard Emanuel cometer suicídio. “A Banda” ainda voltaria com outra formação na década de 1990, mas outra tragédia forçou seus integrantes a pararem mais uma vez: o falecimento de Rick Danko devido a uma parada cardíaca.
Essa é história da The Band contada de forma breve (mas com respeito e admiração). Pra mim, ela soa exatamente como a voz de Richard Manuel: linda, mas revestida de um profundo senso de melancolia.

terça-feira, 18 de maio de 2010

Eleições 2010. A busca pelo sucesso de Obama na internet.

Abaixo, reproduzo artigo meu postado sexta-feira passada no blog da Morya Comunicação sobre o papel das redes sociais nas eleições americanas de 2008 e o que pode ser feito de parecido no Brasil. Para acessar o blog, é só acessar o http://www.moryando.com.br/. Recomendo.

Eleições 2010. A busca pelo sucesso de Obama na internet.

Mais de um ano depois da vitória de Barack Obama nas eleições estadunidenses de 2008, muito ainda se fala sobre a atuação de sua campanha na internet, mais especificamente nas redes sociais. No Brasil, o interesse pelo assunto se deve principalmente ao fato de estarmos em ano eleitoral e, com o sucesso da campanha online de Obama, é natural que os políticos “tupiniquins” e suas equipes estejam em polvorosa com as possibilidades oferecidas pela internet.
O case da campanha de Obama é mesmo fantástico – um jovem advogado negro, formado em Harvard, filho de muçulmanos, nascido e criado no Havaí, e que chegou à presidência do país mais influente do mundo. Sua campanha contou com uma adesão popular nunca vista numa eleição daquele país. O fato é que, em 2007, no início da corrida eleitoral, o então senador do estado de Illinois era conhecido apenas como um jovem democrata negro e idealista, e sua popularidade só começou a crescer quando a campanha ganhou a internet. Como outros conjuntos de ações digitais de sucesso, o grande mérito da campanha de Obama na rede foi por atuar onde os eleitores estavam, e não onde sua equipe gostaria que eles estivessem. Isso significou estar presente nas mais diversas redes sociais – desde as mais tradicionais, como o Facebook, o Youtube ou o Flickr a outras mais segmentadas para públicos específicos, como a Migente.com (destinada a emigrantes e descendentes de latinos) ou o Asianave (destinada aos asiáticos). Em todas elas, Obama possuía widgets – pequenas janelas com links para suas páginas de doação – possibilitando aos internautas fazerem suas contribuições financeiras dali mesmo. Apesar de toda essa disseminação, a campanha na internet girava em torno de uma rede própria, a Mybarackobama.com, onde os usuários criavam seus grupos de discussão e páginas próprias para arrecadar doações, podendo participar ativamente da campanha com sugestões de pauta. Como resultado, o candidato democrata passou a contar com uma infinidade de conteúdos gerados por usuários: mais de 500 grupos do Facebook; fotos no Flickr oficial da campanha, em sua maioria, feitas por fotógrafos amadores; mais de 500.000 resultados gerados na busca pelo nome “Obama” no Youtube; criação do Youbama, site amador com as mesmas ferramentas do Youtube, mas com o objetivo de promover a campanha democrata.
De todas as redes sociais onde Obama atuou, a que mais chamou a atenção foi o Twitter, pois com mais de 1 milhão de seguidores, a campanha dele ajudou a popularizar a rede/ferramenta. O interessante é que, pessoalmente, o candidato Obama nunca escreveu sequer uma linha no Twitter, conforme já declarou em algumas entrevistas. As atualizações ficam por cargo de uma equipe de assessores, que mantêm o perfil ativo até hoje. Isso pode parecer impessoal ou até frio, mas evita que o candidato cometa qualquer tipo de gafe, como tem acontecido com alguns políticos brasileiros.
Outra “sacada” da campanha de Obama foi lançar um aplicativo para Iphone que ajudava os usuários do telefone a organizar suas listas de contato, de acordo com quem eles já convenceram a votar no candidato democrata e os que ainda faltavam ser convencidos. O aplicativo também listava notícias e eventos da campanha de Obama.
Os famosos virais também ganharam grande destaque. Vídeos no Youtube foram vistos por milhões de pessoas. Muitos vídeos eram oficiais, produzidos pela equipe de Obama. Outros, feitos pelos próprios eleitores. Alguns virais contaram com forte adesão de artistas, que agregaram suas imagens à campanha. Abaixo, segue um belo exemplo:
Outro viral que fez muito sucesso foi o criado em cima do famoso filme “Wassup”, criado para a cerveja Budwiser em 2000. Oito anos depois, os mesmos atores que atuaram no filme original gravaram uma sequência especialmente para a campanha de Obama. Abaixo, seguem os dois filmes:
Mesmo depois de eleito, a relação de Barack Obama com a internet continua estreita. Durante o período de transição, entre a eleição e a posse, foi criado o hotsite Change.gov, no qual os americanos postavam mensagens, sugestões e opiniões sobre temas relevantes ao país. Depois de sua posse, o site da Casa Branca foi totalmente reformulado e agora abriga um espaço nos moldes do Change.gov. O Twitter de Obama continua sendo atualizado e a Casa Branca também ganhou um perfil próprio. Já o canal da Casa Branca, no Youtube, passou a receber muito mais conteúdo e não apenas os discursos do presidente, como na era George W. Bush.
Mas, se é verdade que a revolução promovida pela rede mundial de computadores mudou para sempre o universo da comunicação e da informação, também é fato que eleições democráticas são um terreno irregular, onde particularidades geográficas e sociais fazem toda a diferença. Ou seja, o que vale para os Estados Unidos não pode ser dado como certo para o Brasil. Um grande trunfo da campanha de Obama foi, por exemplo, os altos valores de dinheiro arrecadados através da internet. No Brasil, é improvável que algo parecido aconteça, pois a intimidade dos brasileiros com transações financeiras online ainda está muito aquém da dos americanos. Ainda assim, a internet, que ficou de fora das últimas eleições brasileiras por questões judiciais, pode ter um papel fundamental nas de 2010, principalmente no que diz respeito à inclusão dos jovens no debate político. Nas casas de classe média ou nas lan houses da periferia, todos com idades entre 16 e 25 anos estão conectados a redes sociais, blogs e menssegers. Para os candidatos que irão concorrer nas eleições brasileiras de 2010, fazer-se presente nesses canais significa se comunicar com os jovens pelos meios que estes adotaram como seus. E mais importante: surge uma possibilidade real de incluir toda uma geração na discussão sobre o futuro do nosso país.

domingo, 21 de março de 2010

Lembrando Ayrton Senna.

Se estivesse vivo, Ayrton Senna completaria hoje 50 anos de idade, data que está sendo muito bem lembrada na internet e também na Rede Globo. Senna foi um dos grandes heróis da minha infância e hoje continua um ídolo pessoal, mais pelo exemplo de dedicação e pelo que fez nas pistas do que por essa história de “herói nacional” ou “do tempo em que valia a pena acordar cedo aos domingos” (pra quem gosta de corridas, como eu, sempre vale).
É inegável que Senna foi um gênio das pistas. Além disso, tinha carisma e uma vocação imensa para atrair os holofotes e ser protagonista, o que também explica o fascínio que sua figura exerce sobre as pessoas em todo o mundo. E sua morte prematura, ainda mais da maneira que aconteceu, só ajudou a alimentar o mito. Quando morei no Japão, no começo da década de 90, pude ver de perto o fanatismo dos orientais pelo piloto brasileiro – coisa que só seus títulos guiando carros impulsionados por motores Honda não justifica. Daí que, lendo o blog do jornalista Flavio Gomes, me deparei com um vídeo (youtube) de um programa humorístico japonês que tem Senna como convidado. Detalhe: eu vi esse programa na noite em que ele foi veiculado, em minha casa na cidade de Toyama. O programa era muito popular e costumava receber esportistas famosos para disputas com um dos dois comediantes que faziam o show. Lembro de ver Zico e Maradona participando de disputas de pênalti e Michael Jordan jogando basquete. No caso de Senna, foi o Kart. Ao rever as cenas pelo youtube, me veio à memória a ansiedade generalizada que o anúncio da presença do piloto no programa causou. Na escola onde estudei, por exemplo, só se falava nisso.
Como o próprio Gomes colocou, o programa mostra um Senna diferente do que estamos acostumados a ver nas homenagens póstumas. O vídeo mostra uma pessoa divertida, sempre se esforçando para entrar na brincadeira do caricato e inocente humor japonês. Há momentos engraçadíssimos, como o episódio do boné na segunda parte, além de um sarro com Prost e Mansell. Durante todo o programa, a idolatria pelo brasileiro fica evidente, seja nas atitudes dos comediantes, seja na reação da platéia no estúdio a cada ação de Senna.
Segue abaixo a primeira parte do vídeo. As seguintes podem ser vistas a partir dela. Como Senna fala inglês, é possível entender bem o rumo das conversas. Além disso, ele dá um show no kart.

De olho na propaganda e no marketing eleitoral.

Em 2008, escrevi um artigo para o Jornal do Commercio, no qual fiz um balanço da propaganda eleitoral praticada para as eleições municipais daquele ano. O tema sempre me interessou. Na graduação, fiz um extenso trabalho sobre o marketing político de Fernando Collor em 1989 e, mais recentemente, desenvolvi minha monografia para o curso de MBA em Marketing abordando o papel das novas mídias na campanha de Barack Obama.
Mas voltando ao texto, ele é mais uma reflexão sobre o dia a dia de um eleitor comum cercado pelas campanhas eleitorais do que uma análise técnica sobre publicidade ou marketing. Com uma nova eleição prestes a ganhar as ruas (e também a internet, finalmente), acho que vale a pena voltar ao tema. Segue baixo o artigo.

Photoshop, photoshop meu...
Um olhar geral pela atual propaganda eleitoral praticada pelos candidatos e partidos desperta algumas observações. Em relação ao horário político gratuito no rádio e na televisão, analisando superficialmente, pouca coisa mudou. Os que têm mais recursos e tempo apresentam uma produção mais caprichada, com edições, jingles e slogans mais elaborados e atraentes. Os que não têm, tentam se fazer escutar quase à tapa naquele curtíssimo espaço de tempo.
Não é a toa que muitos consideram esta a parte mais interessante do guia. É aqui que vemos as pessoas “reais”, com suas expressões, olhares, vozes, coragem (às vezes cara-de-pau, mesmo), origens e, de vez em quando, até idéias.
Em outra frente de batalha, vem a propaganda nas ruas. Ao andar pelo Recife nestes tempos eleitoreiros, duas coisas chamam a atenção. A primeira foi a diminuição do número de entregadores de material publicitário dos candidatos nos sinais, os famosos panfletos, flyers, santinhos, calendários, etc.
Além de nós, cidadãos, que todos os dias éramos obrigados a juntar uma quantidade absurda de papel, a cidade e o meio-ambiente também agradecem essa redução, já que os impressos representavam um problemão para a nossa precária infra-estrutura. Apesar disso, não estamos livres de um outro tipo poluição: a visual. O responsável por esta, são os chamados prismas, aquelas peças com a foto do candidato que disputam espaço com os pedestres nas calçadas da cidade.
Se acreditarmos nos discursos dos candidatos, que se dizem tão afinados com práticas sustentáveis, a preocupação com possíveis danos ao meio-ambiente este ano será menor. Sendo assim, o que incomoda tanto em relação aos prismas? Seria o bizarro colorido que o conjunto total representa? Ou os tijolos deixados nas calçadas após serem usados para sustentar as peças diante da ventania (uma pena, pois seria divertidíssimo ver enormes rostos sorridentes voando pelas ruas, carregados pelos fortes ventos da primavera)! Estou falando do uso exagerado de programas de manipulação de imagem usados para dar um trato, digamos assim, nas fotos de alguns candidatos.
É certo que são ferramentas fantásticas e representam um enorme avanço na criação e produção da comunicação visual. Mas como tudo o que é bom, deve-se saber a medida de usá-lo. Reparem no desfile gratuito de dentes branquinhos, peles de nenê e cabeleiras fartas e brilhosas. Ou como aquele candidato ou candidata que, na TV, fala do alto da experiência que só a idade lhe proporciona, na foto da esquina está, digamos... Diferente.
Esta, no entanto, não é uma questão que diz respeito somente à publicidade e à propaganda. O uso da tecnologia digital no jornalismo de imagem também tem despertado polêmica. Um caso recente foi o suposto acréscimo de fogos de artifício à transmissão da abertura dos jogos olímpicos de Pequim. Para o fotojornalismo, por exemplo, o tema parece ser bastante delicado. Afinal, quem nunca viu uma imagem ou fotografia na internet e se perguntou se aquilo era verdade ou montagem?
Obviamente a imagem é parte fundamental da comunicação. E na propaganda política, especificamente, se trata de uma poderosa arma eleitoreira. No entanto, diante do alto sentimento de desconfiança dos brasileiros em relação à classe política nativa, me parece que o desejo coletivo é de ver candidatos mais “reais”, que não tem medo se expor suas imperfeições físicas nem humanas - candidatos mais parecidos com aqueles citados no início deste texto, e não bonecos e bonecas de porcelana.
O fato é que, os que entram para a política já deviam saber que, na vida, ainda mais se tratando de trajetórias públicas, a maneira mais eficiente e honesta de se construir uma imagem não é com photoshop. Mas com atitudes.

quinta-feira, 18 de março de 2010

Menos razão e mais sentimento.

Assisti ao filme A Cor do Paraíso pela primeira vez numa aula de história da arte, ainda na universidade, e me marcou muito, contribuindo para quebrar meus preconceitos com o cinema feito fora de Hollywood.
A produção é iraniana e conta a história de um menino cego de 8 anos, órfão de mãe, que estuda numa escola especial. Quando seu pai resolve se casar de novo, ele vê o filho como um embaraço. O filme deu notoriedade mundial ao diretor Majid Majidi e é de uma sensibilidade cortante. Talvez porque estamos todos desacostumados a ser sensíveis. Bom, a cena abaixo diz tudo.


quinta-feira, 11 de março de 2010

Vai começar.

A Formula 1 está de volta neste fim de semana. Quando os 24 carros inscritos nesta temporada derem largada às 9h (horário de Brasília) para o GP do Bareihn, vai começar um dos campeonatos mais interessantes dos últimos tempos. Não faltam argumentos para chegar a essa conclusão: o primeiro deles, em minha opinião, é a volta do heptacampeão Michael Schumacher, agora pilotando para a Mercedes, que comprou a Brown, equipe campeã do ano passado. Também veremos 3 times novos, cinco pilotos estreantes e quatro campeões do mundo juntos no grid.
Há também as mudanças no regulamento. Em 2010, pontuam os dez primeiros colocados. O fim do reabastecimento é outra alteração que deve ser decisiva e levará a estratégias completamente diferentes das que vimos nos últimos anos. Por ultimo, os pneus: os dez primeiros do grid terão de largar com os pneus usados no Q3, última e decisiva fase do treino que define o pole position e demais colocações.
Quanto às chances brasileiras, teremos quatro pilotos e situações bem distintas. No fundo do grid, Lucas Di Grassi e Bruno Senna. O primeiro chega à F1 depois de muita luta e já apresentou seu talento nas categorias de base, mas vai guiar pela Virgin, uma das três equipes estreantes, e que dividiu o fundão das tabelas nos testes da pré-temporada com a colega iniciante (falsa) Lotus.
Bruno Senna vai fazer a alegria dos saudosos do seu tio Ayrton, levando de volta à categoria o lendário sobrenome e o capacete amarelo com listra verde. Mas a verdade é que ele vai precisar de muita sorte, já que sua equipe, a Hispania Racing Team, não fez um teste sequer. Velocidade, ele mostrou que tem. Mas sua curta carreira no automobilismo não nos deixa dizer muito mais que isso.
Já Rubens Barrichello deve andar na zona de pontos. Salvo um grande salto de competitividade da Williams, dificilmente vai brigar por vitórias, coisa que a lendária equipe não consegue há muito tempo.
Na ponta, Felipe Massa. Depois do que a Ferrari mostrou na pré-temporada, é justo colocá-lo entre os favoritos ao título. Mas para isso acontecer, Massa precisa andar na frente do bicampeão Fernando Alonso, considerado por muitos o melhor piloto da atualidade. Resta saber se esse favoritismo da equipe de Maranello vai se concretizar. Especialistas têm apontado Red Bull e McLaren também como candidatas ao título, com a Mercedes logo atrás. Agora, é esperar o fim de semana pra ver.